Gustavo Diniz
5 min readDec 22, 2019

O que aprendemos em 2019 e o que temos que levar para 2020?

O que aprendemos com o Flamengo de 2019? Jorge Jesus trouxe para o futebol brasileiro algo que não víamos há tempos: a disposição de propor o jogo, querer vencer, ir para cima independente do adversário, da circunstância do jogo — lembram-se do “mister” embravecido com os jogadores por errarem passes, quando o jogo estava 5x0 para o Flamengo contra o Goias? — . O que vimos nesse Flamengo, tal como no Santos de Sampaoli e o Athletico Paranaense de Tiago Nunes (claro com bem menos recursos financeiros), foi um futebol moderno jogado, não no mesmo nível, mas com a mesma filosofia do futebol de europeu.

Claro que após uma derrota como no jogo contra o Liverpool, o que fica são as decepções e aquilo que o Flamengo acabou por não ser capaz de executar na final do Mundial de Clubes. Diferente de alguns jornalistas, discordo de que o Flamengo foi melhor que o Liverpool na final. O time inglês impôs seu jogo e soube enfrentar as dificuldades táticas impostas pelo clube carioca. Se não era possível passar tocando a bola pelo meio, usaram e abusaram da habilidade de seus jogadores em lançar a bola e abrir o time adversário. O Flamengo, entretanto, não conseguiu usar o que teve de melhor no ano: a velocidades do trio que marcou mais de 91 gols só no nesse ano (Arrascaeta, Bruno Henrique e Gabriel).

Mas a partida é feita de momentos e, por vezes, o Flamengo esteve melhor na partida, adiantando a marcação, dificultando a saída de bola e até levando perigo em alguns momentos. O Liverpool, todavia, soube lidar com esses momentos e em um contra-ataque, um passe de Mané para o centro-avante da seleção brasileira, Roberto Firmino, que mostrou o porquê é um dos melhores do mundo na posição, tendo frieza e calma para deixar o zagueiro e o goleiro rubro-negro no chão, o sonho pedido pela torcida durante o ano, o de conquistar o mundo novamente, desmoronou. Mas não pode-se deixar de exaltar a grandeza do que foi esse Flamengo e entender quais lições podemos ter com ele.

Sabemos que o futebol brasileiro vem passando por uma cultura resultadista. Isso ocorre por diversas razões e entre elas a falta de estabilidade que os técnicos brasileiros têm em seus clubes. Independente de desempenhar ou não, um bom futebol, caso não ganhe títulos os clubes não pensam duas vezes em pagar as multas milionárias e buscar um novo técnico. Logo, em busca de garantir seus empregos os técnicos optam por uma filosofia de jogo um tanto ultrapassada: jogam o time todo para trás, trabalham a defesa e a posse de bola no meio de campo até que surja uma oportunidade de liquidar a partida.

Embora não seja agradável de assistir, esse tipo de jogo eventualmente da resultado, cabe lembrar que o Corinthians nos últimos 10 anos conquistou diversos títulos exatamente jogando assim. Mas assim como pode garantir também cobra muito fácil, lembrem-se que o técnico Fábio Carille campeão brasileiro de 2017 e tri campeão paulista (2017, 2018 e 2019), não resistiu à pressão dos resultados que não vinham quando os jogadores já não davam o que era esperado em campo e as vitórias não vinham. A forma como saiu nem de longe parecia a de um técnico que venceu quatro títulos em quatro anos como treinador profissional.

Assim, técnicos que conquistaram diversos títulos em suas carreiras, mas que levam consigo uma resistência a se atualizar, estudar tática de jogo e aprender com o futebol suas novas exigências, seguem desempregados. É o caso de Abel Braga, que mesmo com um Flamengo com o maior investimento do futebol brasileiro não conseguiu entregar um futebol agradável e com isso abriu as portas para Jorge de Jesus.

A primeira lição que o Flamengo nos ensinou, no caso, foi que pode-se ter um futebol propositivo e bem jogado e com grandes resultados. O rubro-negro carioca conquistou em 2019 o título estadual, a tão sonhada libertadores e o campeonato brasileiro, além claro do digno vice campeonato mundial, com um futebol vertical, rápido e taticamente consciente. Um contra argumento que tendem a usar contra o Flamengo é que, com o dinheiro que gastou, apresentar um bom futebol era o mínimo.

Mas ele cai por terra quando analisamos o caso do Palmeiras. Com um investimento no mesmo nível do Flamengo, o time paulista não conseguiu demonstra um bom futebol. Muito em função das sucessivas troca de técnicos pesou sobre os palestrinos a falta de planejamento. Resolveram prosseguir com o ultrapassado Luiz Felipe Scolari, que sim tem no currículo uma Copa do Mundo — a última que o Brasil conquistou — mas que já não consegue mais entregar um bom trabalho. Demonstrou ao longo do ano um futebol muito aquém dos mais de cem milhões investidos, sem disposição tática e com pouquíssima sede de vencer. Lembrem da deplorável entrevista do técnico após uma vergonhosa eliminação na Copa do Brasil contra o Internacional, quando, na oportunidade, Felipão disse: “não morreu ninguém”.

A apatia da entrevista é exatamente a demonstrada pelos jogadores em campo. E o extremo oposto de Flamengo, Athletico Paranaense e Santos. O Athletico após ter vencido a Copa do Brasil, com um futebol de dar inveja, vencendo times como Grêmio e Internacional que tinham um investimento muito maior durante o ano, estava no brasileirão sem muitas expectativas, o que não fez com que tivessem menos intensidade durante o restante do campeonato. Terminou em quinto lugar, trazendo, inclusive dificuldades para Corinthians e Internacional, já que ambos tinham ainda o sonho de se classificar para a Libertadores do próximo ano.

Portanto, para os próximos anos a lição que fica é a de que temos de dar uma chance para trabalhos mais modernos e para um futebol mais bem jogado. Com as modernizações dos estádios e com o alto preço dos ingressos, parece injusto para com os torcedores, que os jogadores com salários milionários entrem em campo apenas buscando uma oportunidade para vencer. Sem se preocupar em apresentar, no mínimo, um espetáculo àqueles que seguem fielmente seus clubes.

Parece um absurdo que em pleno 2019 os futebol seja gerido pelos amigos do presidente do clube, sem qualquer preocupação profissional, sem levar em consideração a capacidade técnica dos que ocupam os cargos e sem responsabilidade fiscal com as cifras estratosféricas de arrecadação que têm os clubes brasileiros. Precisamos aprender com Flamengo e Athletico — o Santos ainda encontra-se longe nesse quesito — que um bom futebol em campo é uma boa administração fora dele.

Gustavo Diniz

Estudante de Letras com dupla habilitação em Português e Alemão na Universidade de São Paulo. Apaixonado por literatura, futebol e política.